Intérpretes do pensamento desenvolvimentista
Abstract
Pierre Salama veio ao Brasil pela primeira vez em 1979. Vontade de ter vindo antes não lhe faltava, desde que, nos anos 1960, ele descobrira, em Paris, a América Latina, a Revolução Cubana, as guerrilhas, os exilados. E as aulas de Celso Furtado na Sorbonne, sobre economia do desenvolvimento e economia latino-americana. Salama foi aluno de Furtado e, mais tarde, seu assistente. Nascido no Egito em 1942, mudou-se para a França em criança. A mãe queria vê-lo engenheiro, mas ele acabou cursando economia, na época uma disciplina pouco contaminada pela modelização e vista como uma ferramenta para se compreender a sociedade. Entenda-se: para fazer militância política — à qual Salama não se furtou, primeiro na juventude comunista, depois no trotskismo. Justamente, foi a ativíssima militância que alimentou um fornido dossiê a seu respeito nos arquivos dos regimes militares do Brasil e da Argentina, dificultando sua vinda para cá.Celso Furtado chegara à universidade francesa com uma proposta didática diferente, conta Salama. Na época, os professores de economia do desenvolvimento tinham uma experiência limitada às colônias francesas na África, e não imaginavam ser possível coexistir industrialização e subdesenvolvimento. Furtado, que vinha da equipe fundadora da Cepal e trabalhara em vários países da América Latina, comprovava o contrário. Levou para as aulas da Sorbonne o enfoque científico que faltava aos alunos, introduziu-os ao sistema centro-periferia.
Desde então Salama se tornou um latino-americano de adoção. Sua tese de doutorado, defendida em 1970, foi sobre O processo de “subdesenvolvimento”: o caso da América Latina, logo traduzida em espanhol, italiano, português (Vozes, 1976). Professor de economia de Paris-13, universidade da qual hoje é emérito, seus temas de pesquisa abarcam o desenvolvimento das economias semi-industrializadas, o Estado na América Latina, os estudos sobre pobreza e riqueza e a consequente desigualdade da renda. Mais recentemente, Salama vem se dedicando à análise comparativa entre as economias latino-americanas e as asiáticas, a começar pela chinesa, interessado em deslindar como umas e outras convivem com a globalização comercial e financeira. Sua pauta também inclui um hobby: o estudo das drogas e da violência nas economias emergentes. Entre seus vários livros, quase todos publicados em português, os mais recentes são Le défi des inégalités, une comparaison économique Amérique latine/Asie (La Découverte, 006; Manaus, Perspectiva, 2011) e Les économies émergentes latino-américaines, entre cigales et fourmis (Armand Colin, 2012). Foi numa vinda ao Rio de Janeiro, em agosto de 2015, que Pierre Salama falou a Cadernos do Desenvolvimento sobre seu percurso de vida e acadêmico, seu convívio com Celso Furtado e sua forte ligação com o Brasil.
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Published
2018-04-25
How to Cite
Salama, P. (2018). Intérpretes do pensamento desenvolvimentista. Cadernos Do Desenvolvimento, 10(17), 92–111. Retrieved from https://www.cadernosdodesenvolvimento.org.br/cdes/article/view/97
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Entrevistas
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