Análise das políticas industriais brasileiras no período de 2003 a 2015 à luz da teoria neoschumpeteriana: um balanço propositivo

Arthur Osvaldo Colombo, Marina Honorio de Souza Szapiro, Jose Eduardo Cassiolato

Resumo


Este artigo tem como intuito demonstrar que boa parte dos resultados pretendidos das políticas industriais executadas entre 2003 e 2015 não chegaram a ser alcançados de maneira satisfatória, principalmente com relação às metas de adensamento para a indústria de transformação no Brasil. Tal análise dar-se-á por meio da bibliografia neoschumpeteriana e pela observação de alguns dados da indústria de transformação brasileira. Acerca deste último, foram utilizadas informações como de coeficientes de insumos importados, coeficiente de penetração de importações e exportações líquidas. Concluiu-se que os resultados das políticas industriais no período supracitado foram modestos por dois principais fatores: i) as políticas industriais explícitas e implícitas, especialmente a macroeconômica, apresentavam direções distintas; e ii) a grande maioria das políticas industriais não indicava caráter sistêmico baseado na teoria neoschumpeteriana de sistemas de inovação. Isto é, não se considerava a inovação como um processo não linear, cumulativo e que depende de aspectos históricos e geográficos.


Palavras-chave


Política Industrial; Economia Brasileira; Indústria de Transformação; Políticas Implícitas

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