Editorial | Nº 9

Ricardo Ismael

Resumo


O Centro Celso Furtado tem procurado ao longo dos últimos anos estimular o debate público e as atividades de ensino e de pesquisa no Brasil, tendo como foco o tema do desenvolvimento em suas diferentes dimensões, em sintonia com as preocupações registradas na obra e na trajetória de Celso Furtado.
A publicação Cadernos do Desenvolvimento tem participado desse esforço, registrando contribuições valiosas dos sócios do Centro Celso Furtado, de professores dos principais programas de pós-graduação do país, e também de jovens pesquisadores, muitos deles apoiados por bolsas de mestrado e de doutorado oferecidas pelo próprio Centro Celso Furtado.
Novos desafios se colocam nesta década para a publicação. Entre eles, o de procurar ampliar sua divulgação em nível nacional e internacional, registrando e repercutindo as reflexões mais relevantes sobre o desenvolvimento no mundo contemporâneo. Além disso, deve contribuir para fomentar o debate interdisciplinar, no qual diferentes campos científicos dialogam, identificam pontos comuns na agenda de discussão, e buscam sistematizar os aspectos complementares no debate envolvendo o desenvolvimento.
Nessa perspectiva, a partir deste número os Cadernos do Desenvolvimento passam a ter uma versão no formato eletrônico, além da tradicional edição impressa, o que permite expandir seu alcance e fortalecer sua repercussão. Inicia-se também, de forma sistemática e semestral, a seleção de artigos acadêmicos para publicação previamente submetidos a pareceristas, procurando assim atender aos critérios e procedimentos para seu reconhecimento como periódico científico publicado no Brasil.
Este número apresenta, inicialmente, em ordem alfabética de autores, os artigos encaminhados para apreciação até final de março do ano corrente, e que foram aprovados por pareceristas e revisados por seus autores em tempo hábil para publicação neste número.
É importante dizer que nesta primeira chamada de artigos foram registradas aproximadamente trinta submissões. Todas elas abordando distintos aspectos do tema do desenvolvimento, envolvendo principalmente os campos da economia, da ciência política, das relações internacionais e do direito.
Doravante espera-se também contar com as reflexões de outras áreas científicas, sobretudo daquelas que apoiam e refletem regularmente sobre o desenvolvimento brasileiro e dos países periféricos, e a respeito da obra de Celso Furtado e de seus principais interlocutores.
Em seguida, esta edição contempla seção intitulada “Desenvolvimento no mundo contemporâneo: agenda, interdisciplinaridade e perspectiva comparada”, a qual procura abrir espaço para a participação dos sócios do Centro Celso Furtado, e para convidados como pesquisadores sênior e personalidades públicas reconhecidas por seu notório saber.
Registramos nesta seção dois conjuntos de contribuições. O primeiro reúne os textos de Luiz Carlos Thadeu Delorme Prado, intitulado “Política de concorrência e desenvolvimento: reflexões sobre a defesa da concorrência em uma política de desenvolvimento”; de Marcos Costa Lima, com o título de “O Brasil na segunda década do século XXI: desafios, mudanças e novas questões”; e de Roberto Saturnino Braga, denominado “Na política: bons ventos para os duzentos anos”. Os três autores procuram olhar para o Brasil de forma prospectiva, expressando, por assim dizer, certo otimismo com algumas tendências apresentadas no final dos anos 2000, mas sem perder de vista os desafios na dimensão institucional, os obstáculos históricos ao nosso desenvolvimento e a necessidade de valorização da política na elaboração de um projeto nacional.
Ainda nesta seção encontra-se outro conjunto de textos, no qual ganham destaque as reflexões de Cesar Bolaño, apresentadas sob o título de “Indústria e criatividade: uma perspectiva latino-americana”, e o trabalho de Gregorio Vidal, intitulado “México: o secundário-exportador e o aprofundamento do subdesenvolvimento”.  Bolaño retoma algumas das preocupações de Celso Furtado registradas no final dos anos 1970, no livro Criatividade e dependência na civilização industrial, mas enfatizando alguns desafios para o Brasil contemporâneo, como uma melhor definição para os direitos de propriedade intelectual e a universalização da internet banda larga. Vidal, por sua vez, apresenta uma visão crítica em relação às transformações ocorridas na economia do México nos últimos anos, que em boa medida, segundo o autor, aumentaram o conteúdo de importados da indústria nacional, consolidaram uma dependência no comércio exterior em relação aos Estados Unidos, e ampliaram a informalidade no mercado de trabalho em atividades com baixo valor agregado tecnológico.
Nesta edição os Cadernos do Desenvolvimento iniciam, seguindo a tradição da história oral, a publicação de entrevistas com pessoas que acompanham, analisam e participam de variadas maneiras da evolução do desenvolvimento brasileiro contemporâneo. A primeira delas é com Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e profundo conhecedor dos (des)caminhos e dilemas da economia nacional. A entrevista foi realizada na sede do banco tendo como entrevistadores os economistas Claudio Salm, Carlos Pinkusfeld e Ernani Torres, a jornalista Rosa Freire d’Aguiar Furtado e o cientista político Ricardo Ismael.
Também nos concedeu uma entrevista o economista Luiz Gonzaga de Mello Belluzo, um dos mais destacados intérpretes do pensamento desenvolvimentista brasileiro. Seus entrevistadores foram o economista Alexandre Freitas Barbosa, a jornalista Rosa Freire d’Aguiar Furtado, e os cientistas políticos Bernardo Ricupero e Ricardo Ismael.
Neste momento em que a publicação renova seus objetivos iniciais e amplia seu escopo, não poderia faltar uma seção permanente dedicada ao patrono do Centro Celso Furtado, com escritos do próprio Celso Furtado, bem como ensaios sobre sua vida e seu legado intelectual.  No “Dossiê Celso Furtado” os leitores poderão desfrutar do texto “Raúl Prebisch”, um registro realizado por Furtado poucos dias depois da morte do economista argentino, ocorrida em abril de 1986. Julgamos oportuna esta homenagem no momento em que o Centro Celso Furtado lança no Brasil, com a Editora Contraponto, e tradução de Teresa Dias Carneiro e Cesar Benjamin, o livro Raúl Prebisch (1901-1986): a construção da América Latina e do Terceiro Mundo, de autoria de Edgar J. Dosman.
O “Dossiê Celso Furtado” traz também o ensaio de José Almino de Alencar, intitulado “Celso Furtado: um senhor brasileiro”. O autor, pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa, procura discorrer sobre aspectos substantivos da obra de Furtado, ressaltando especialmente a importância da análise histórica e algumas de suas contribuições teóricas.
Fechando este nono número dos Cadernos do Desenvolvimento são apresentadas duas resenhas.  A de Carmen Feijó é sobre o estudo coordenado por Luis Bértola e José Antonio Ocampo, intitulado “Desarrollo, vaivenes y desigualdad: una historia económica de América Latina desde la independência”. A de Marcos Costa Lima diz respeito ao livro The Deepest Wounds. A Labor and Environmental History of Sugar in Northeast Brazil, do historiador norte-americano Thomas D. Rodgers.
Finalmente, agradecemos aos convidados que prontamente aceitaram fazer parte dos Conselhos Editorial e Consultivo dos Cadernos do Desenvolvimento, e aos pareceristas que colaboram neste número.
Um agradecimento especial a toda a equipe do Centro Celso Furtado, comprometida com esta nova etapa da publicação. Não poderia ser diferente, mas é importante o registro: este é o trabalho de uma equipe.


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