Gilberto Freyre e o Estado Novo: a trajetória de uma relação ambígua

Gustavo Mesquita

Resumo


Em 1937, Gilberto Freyre participou da campanha de José Américo de Almeida para presidente da República como intelectual responsável por traduzir as ideias do regionalismo para os eleitores mediante a imprensa. A atitude indicava publicamente sua preferência em um momento de profundos confrontos ideológicos: ele aderiu à campanha eleitoral do candidato que defendia os interesses da classe agroexportadora perante o Estado. Acontece que, com o fim do pleito decorrente do golpe de Getúlio Vargas e a instauração do Estado Novo, o sociólogo passou a preparar, com muita habilidade política, sua transição para o apoio ao regime autoritário, isto é, aproximou-se da elite do regime recém-instaurado para negociar o discurso da brasilidade construído paulatinamente em sua obra históricosociológica. Desse modo, ele pôde negociar interesses diretamente com a elite do governo Vargas. Com os acordos resultantes desse negócio, regionalismo e nacionalismo se tornaram o denominador comum de um mesmo conceito de “cultura brasileira”, caracterizado, sobretudo, pela diversidade como elemento positivo do “povo”. Os nexos entre região e nação foram repensados do ponto de vista do mesmo conceito. Entretanto, em 1945, o pacto celebrado entre as partes, embora parecesse consolidado institucionalmente, sofreu interrupções com a luta nacional pela deposição do ditador. Neste texto procuro, com base em livros, cartas e artigos de jornal escritos pelo sociólogo, reconstruir os acontecimentos que marcaram a trajetória de Gilberto Freyre em relação ao Estado Novo.


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